CIDADÃOS OPINAM SOBRE A CORRUPÇÃO EM ÁFRICA
A corrupção nos países africanos está a impedir o desenvolvimento económico, político e social do continente. É um grande obstáculo para o crescimento económico, uma boa governança e liberdades básicas, tais como a liberdade de expressão ou o direito dos cidadãos de exigir que os seus governos prestem contas.
Mais do que isso, a corrupção afeta o bem-estar de indivíduos, famílias e comunidades.
A décima edição do Barómetro Global de Corrupção (GCB) – África revela que embora a maioria das pessoas na África acreditem que os níveis de corrupção aumentaram no seu país, elas também se sentem otimistas, pois acreditam que os cidadãos podem fazer a diferença no combate à corrupção.
Global Corruption Barometer (GCB) – Africa | Transparency International
A nossa investigação mostra que mais de metade dos cidadãos acha que a corrupção está a piorar no seu país, e que o seu governo não está a fazer um bom trabalho no combate à corrupção.
O relatório também constatou que mais do que uma em cada quatro pessoas que usam serviços públicos, tais como cuidados de saúde e educação, pagou algum tipo de suborno no ano anterior.
Isso equivale a aproximadamente 130 milhões de cidadãos nos 35 países pesquisados.
Realizado em parceria com a Afrobarometer e a Omega Research, o Barómetro GCB é o maior e mais detalhado levantamento de opiniões dos cidadãos sobre a corrupção e as suas experiências diretas de suborno em África. A pesquisa incorpora os pontos de vista de mais de 47.000 cidadãos de 35 países em toda a África.
INSTITUIÇÕES E SERVIÇOS
Os cidadãos acham que a polícia é a instituição mais corrupta, sendo que 47% das pessoas acreditam que a maioria ou toda a polícia é corrupta. Estes resultados são consistentes com as conclusões do relatório de 2015.
Não surpreende o facto de que os relatos revelem de maneira consistente que a polícia recebeu o índice de suborno mais alto em toda a África. Outros serviços públicos, tais como utilidades públicas, incluindo eletricidade, água e emissão de documentos de identificação, tais como licenças e passaportes, também receberam altas taxas de suborno.
QUEM ESTÁ A PAGAR SUBORNO?
O suborno não afeta todas as pessoas de forma igual. A prática atinge mais significativamente os mais pobres do que os mais ricos. Isso significa que o acesso a cuidados de saúde, educação e proteções legais é muitas vezes negado às pessoas mais pobres, trazendo consequências devastadoras. Os jovens com idades entre 18 e 34 anos são mais propensos a pagar suborno do que as pessoas com 55 anos ou mais.
A pesquisa revela como a corrupção está a afetar mais as pessoas vulneráveis.
Pagar subornos por serviços públicos essenciais significa que as famílias mais pobres têm menos dinheiro para outras necessidades, tais como comida, água e remédios.
TOMAR MEDIDAS
Os governos têm um longo caminho a percorrer para reconquistar a confiança dos cidadãos.
No entanto, apesar disso, os cidadãos africanos acham que a mudança é possível.
Os africanos acreditam que podem fazer a diferença. No entanto, os governos devem permitir que tenham espaço para tal.
PAÍSES EM FOCO
Vários países se destacam pelas suas taxas de suborno e níveis de corrupção, incluindo a República Democrática do Congo (RDC) e a Maurícia.
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO (RDC)
85% dos cidadãos da RDC acreditam que a corrupção está a piorar. Esta é a maior taxa da região. O país também tem a maior taxa de suborno no continente (80%), sendo que a polícia recebe os mais altos índices de suborno (75%) entre todos os países e setores.
MAURÍCIA
Em contraste, a Maurícia tem um dos mais baixos índices de suborno da região (5%), sendo que a polícia também recebe uma taxa baixa de suborno (5%). Tendo em vista estes resultados positivos, não surpreende que mais de 55%dos cidadãos da Maurícia acham que as denúncias de casos de corrupção levam às consequências adequadas.
INTEGRIDADE POLÍTICA
Como parte da nossa análise, comparamos as opiniões dos cidadãos sobre a corrupção relativamente a membros do parlamento com outros índices, tais como o Índice de Eleições Limpas que mede a corrupção nas eleições nacionais, e encontramos um vínculo direto.
MEDIADORES ESTRANGEIROS
Atores não-africanos também exercem um papel importante na facilitação da corrupção em África através de subornos e lavagem de dinheiro internacionais.
A corrupção no setor público existe dentro de um contexto. Quando o dinheiro que deveria ser usado para financiar serviços essenciais, tais como saúde e educação, é levado para fora do país devido à corrupção, os cidadãos comuns são os que mais sofrem.
É demasiado comum que os países que exportam um alto volume de bens e serviços internacionalmente não investiguem ou penalizem as empresas que pagam subornos.
Por sua vez, os líderes políticos fazem acordos com empresas estrangeiras para promover os seus interesses pessoais à custa dos cidadãos que eles representam.
RECOMENDAÇÕES
Combater a corrupção em África requer uma abordagem holística e sistémica. Algumas das nossas principais recomendações aos governos africanos incluem:
- Ratificar, implementar e reportar de acordo com a Convenção da União Africana sobre Prevenção e Combate à Corrupção (AUCPCC)
- Investigar, processar e penalizar todos as denúncias de corrupção, sem exceção
- Desenvolver padrões mínimos e diretrizes para práticas éticas de licitação pública
- Adotar práticas de contratação aberta, que tornam os dados mais claros e fáceis de analisar
- Recolher reclamações de cidadãos e fortalecer a proteção dos denunciantes
- Permitir que a imprensa e a sociedade civil exijam a prestação de contas por parte dos governos5
Os governos das principais economias, incluindo os países do G20 e da OCDE, e os centros financeiros offshore devem:
- Estabelecer registos públicos, com dados abertos, contendo informações sobre os verdadeiros proprietários de empresas e fundos privados
- Aplicar as leis internacionais de suborno
- Implementar padrões contra a lavagem de dinheiro
Líderes de empresas no mundo todo devem implementar padrões internacionais contra a corrupção e a lavagem de dinheiro.
Para a lista completa de países pesquisados e informações sobre a abordagem de pesquisa, por favor, veja aqui. As principais conclusões de cada país estão disponíveis aqui.
Image: Zhi Zulu | zhizulu.com
GCB
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